quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Expansão - 1500 a 1621 (3ª parte)

A Dinastia Filipina

Desde a formação de Portugal e da independência do reino que a ameaça castelhana foi quase sempre uma constante. Em 1578, com a morte do rei de Portugal, D. Sebastião, essa ameaça torna-se uma realidade. Para percebermos como Portugal passou a ser governado por reis castelhanos, temos de recuar um pouco...

Depois da morte de D. Manuel I, quem fica a governar Portugal é o seu filho, D. João III (1521 a 1557).
D. João III morre e tem um filho com apenas 2 anos, D. Sebastião, pelo que é o Cardeal Infante D. Henrique, irmão de D. João III e tio de D. Sebastião que, não sendo rei, governa Portugal até D. Sebastião ter idade suficiente para assumir o cargo.
Assim, em 1568, com 12 anos, D. Sebastião é finalmente proclamado rei e começa a perseguir o sonho da sua vida: combater os mouros do norte de África. Devido a esse sonho, com apenas 22 anos, em 1578, D. Sebastião morre na Batalha de Alcácer Quibir.
Portugal fica sem rei! Mais uma vez, Castela é um perigo...
Possíveis herdeiros da Coroa

- D. Catarina de Bragança, neta de D. Manuel I (filha do Infante D. Duarte)

- D. António Prior de Crato (filho ilegítimo de D. Manuel I) - apoiado pelo POVO.

- Filipe II, Rei de Espanha (casado com uma filha de D. Manuel I) - apoiado pela NOBREZA.

Em 1580, Filipe II de Espanha (Filipe I de Portugal) toma o poder, comprometendo-se a respeitar Portugal enquanto nação independente. Existiam, portanto, dois reinos que eram governados apenas por um rei.
Até então, Portugal tinha conseguido manter uma posição de neutralidade em relação às guerras que decorriam na Europa. Porém, passando a ser governado por um rei espanhol, essa posição de neutralidade perde-se.
Portugal passa a ter a obrigação de pagar impostos relacionados com a defesa dos dois reinos e a nobreza é chamada pelo rei espanhol para combater em guerras que não considerava serem suas... O descontentamento nasce e a Restauração da Independência de Portugal estará para breve.
Apesar da Restauração acabar por chegar em 1640, os danos causados pelo governo da dinastia filipina estavam feitos e o império português começa a desmoronar-se.

O Homem do Leme (Xutos e Pontapés)

Sozinho na noite
um barco ruma para onde vai?
Uma luz no escuro brilha a direito,
ofusca as demais.

E mais que uma onda, mais que uma maré...
Tentaram prendê-lo impor-lhe uma fé...
Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade,
vai quem já nada teme, vai o homem do leme...

E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...

No fundo do mar
jazem os outros, os que lá ficaram.
Em dias cinzentos
descanso eterno lá encontraram.

E mais que uma onda, mais que uma maré...
Tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé...
Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade,
vai quem já nada teme, vai o homem do leme...

E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...

No fundo horizonte
sopra o murmúrio para onde vai?
No fundo do tempo
foge o futuro, é tarde demais...

E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Expansão - 1500 a 1621 (2ª parte)

Reinado de D. Manuel I (1469 – 1521)

Durante as primeiras décadas do século XVI, D. Manuel I elaborou algumas mudanças no tecido organizativo de gestão dos recursos da Coroa, que tinham como objetivo a consolidação do poder da Monarquia e a implementação de um Estado Fiscal.

1497 - 1520: alteração das prestações devidas à Coroa por parte de cada foral; fixação das prestações das populações.

1514 (Casa dos Contos do Reino): alargamento do corpo de oficiais de fiscalização contabilística.


Durante este reinado, há ainda que realçar o facto de as despesas terem começado a superar os gastos do império, dando origem a uma balança desequilibrada:
Pelouro
- Custos de defesa e manutenção do império, que sofria cada vez mais pressão por parte das potências que começam a emergir.
- Custos da Coroa, que esbanjava os ganhos do império em seu próprio benefício.
- Realização de empreendimentos fora das possibilidades do império (construção de grandes monumentos).

Mosteiro dos Jerónimos




 
Para saber mais sobre o Reinado de D. Manuel I e sobre os monumentos manuelinos, clique aqui
 
 
 
 

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Expansão - 1500 a 1621 (1a parte)


Uma vez ultrapassadas as sucessivas vagas de Peste Negra da segunda metade do século XIV, a viragem do século conheceu um novo ciclo de expansão económica e populacional na Europa. Se a recuperação da economia portuguesa se mostrou lenta e plena de hesitações durante o século XV, depois de 1480-1490 proliferam os sinais positivos.

O mundo rural ocupava naturalmente uma fatia dominante da força de trabalho e era a origem principal dos rendimentos das populações. Esse domínio rural que, em Portugal como nas outras partes da Europa, haveria de durar ainda alguns séculos, não impediu que se verificassem desenvolvimentos noutras atividades.


Expansão Agrária
A expansão agrária é realizada em Portugal com a ajuda dos contratos de aforamento (o foreiro desbrava a terra e obtinha o direito de vinculação e exploração do terreno) e através do arrendamento (as câmaras arrendam terrenos para exploração agrícola).
Continuavam a fazer parte da paisagem rural as terras incultas, como as florestas, matos e terrenos baldios, cuja extensão é impossível de avaliar. Talvez isso se devesse à falta de mão-de-obra, de capital ou de tecnologia apropriada, mas também à utilidade que acabavam por ter na obtenção de matéria-prima como a lenha, cortiça, frutos, cogumelos ou na sua utilização como terras de pasto.
Principais cultivos: cereais, vinha e oliveiras.

Expansão Manufatureira
As atividades industriais, isto é, a produção e transformação de bens não agrícolas, deram também sinais de dinamismo nesta altura, devido a:
- Aumento da procura nos centros urbanos;
- Maior disponibilidade de capital e de matéria-prima;
- Dinamismo dos circuitos comerciais.
Assim, na viragem para a Idade Moderna, o trabalho dos camponeses passa a dirigir-se também à satisfação da procura em mercados mais distantes e não apenas ao autoconsumo e aos mercados locais. Nos tempos mortos da faina agrícola, com o intuito de obter rendimentos complementares à sobrevivência do agregado doméstico, os camponeses passam a dedicar-se à manufatura de bens.
No campo, ou seja, nas zonas rurais desenvolviam-se as primeiras etapas do processo manufatureiro, como a tecelagem ou a fiação, por exemplo. Na cidades, nas zonas urbanas, desenvolviam-se as restantes etapas, para as quais era necessária a utilização de máquinas sofisticadas, como, por exemplo, para a estampagem.

Principais produções: linho (camisas, roupa interior, roupa de casa); lã (casacos, meias, chapéus); curtume (calçado, freios, correias); barro (tijolo e telhas); produtos relacionados com a construção naval (velas, madeiras).

Expansão Comercial
Com a expansão ultramarina Portugal adquiriu uma diferente função nas relações económicas intraeuropeias, apesar da economia portuguesa ter continuado a ser fundamentalmente agrária.
A novidade residiu na distribuição de mercadorias produzidas noutros continentes que sustentaram, e em muitos casos justificaram, um incremento de importações provenientes das mais diversificadas regiões europeias.
Portugal tirou grande vantagem da sua função de intermediário do comércio europeu até ao século XVIII, sendo a única porta de entrada de produtos que adquiriram grande importância, como é o caso da pimenta, do açúcar, do ouro e dos escravos.

Rotas comerciais do império português e espanhol
Para saber mais sobre a época dos descobrimentos portugueses, clique aqui.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A Formação - 1143 a 1500 (2ª parte)

 
No reinado de D. Fernando, Portugal enfrentou uma Guerra Civil, originada pela morte do rei, que não deixou nenhum filho varão. Portugal estava sem herdeiro da Coroa e a ameaça da perda da independência para o reino de Castela era uma realidade.
 

Possíveis herdeiros da Coroa:
- D. Leonor Teles de Menezes, mulher de D. Fernando, de origem castelhana.
- D. Beatriz, filha de D. Fernando, casada com o rei de Castela, D. Juan I.
- D. João de Castro, meio irmão de D. Fernando, filho ilegítimo de D. Pedro I.
- D. João Mestre de Avis, meio irmão de D. Fernando, outro filho ilegítimo de D. Pedro I.

Num primeiro momento, D. Leonor Teles de Menezes governa o reino. Porém, ela começa a beneficiar os nobres castelhanos, o que gera uma onda de descontentamento no reino...

Em 1383, D. João Mestre de Avis manda assassinar dois partidários da rainha (o Bispo de Lisboa e o Conde de Andeiro). A rainha perde poder e D. João Mestre de Avis ganha-o...
Em 1394, D. Juan I junta o seu exército e faz o primeiro cerco a Lisboa, mas tem de recuar, devido à Peste Negra que acaba por dizimar o seu exército.
Batalha de Aljubarrota
Em 1395, D. Juan I volta a reunir as tropas para atacar Lisboa, desta vez com a ajuda dos franceses. Porém, D. João Mestre de Avis prepara um exército, apoiado pelos ingleses, e vai ao encontro das tropas castelhanas na zona de Aljubarrota. Portugal ganha a Batalha e em 1385 o Mestre de Avis é aclamado rei de Portugal. Dá-se início à 2ª Dinastia, a Dinastia de Avis - D. João I.

D. João Mestre de Avis
D. João I




A sobrevivência política de Portugal como reino independente de Castela teve grande importância para o reino a todos os níveis: Portugal estava formado, com as suas fronteiras delimitadas e a sua autoestima bem alta!

D. João I governa Portugal desde 1385 a 1433, e é no seu reinado que começa a expansão de Portugal fora do território europeu.

  • Causas da Expansão:
- Expansão territorial, num mundo em que a posse da terra gera a riqueza;
- Expansão da cristandade, num mundo em que todas as pessoas que não fossem cristãs eram vistas como "perdidas".
- Ocupação da Nobreza portuguesa, que desde a paz com Castela, em 1411, encontrava-se sem nada para fazer.
- Procura de mão-de-obra, uma vez que a Peste Negra tinha matado muita população.
- Procura de bens que não existiam em Portugal, como o metal ou a prata.
- Descoberta do caminho marítimo para a Índia, uma vez que as especiarias eram uma fonte de riqueza e a viagem terrestre comportava grandes despesas e perigos.

D. João I coloca à frente deste movimento de Expansão o seu filho, o Infante D. Henrique, que, com a conquista de Ceuta, abre um novo mundo por descobrir para toda a Europa.
1415 - Conquista de Ceuta                                 Infante D. Henrique




 
Nos anos que se seguem, grandes mudanças económicas vão acontecer em Portugal, devido, claro, à expansão marítima.
A registar, no entanto, que Portugal continuava a ser um país rural, ou seja, o povo vivia do trabalho agrícola e a Coroa continuava com alguns problemas no controlo dos proprietários. Por essa razão, no reinado de D. Duarte II, filho de D. João I, é publicada outra lei que tem como fim a concolidação do poder da Monarquia:
1434 - Lei Mental.


Sugestão: veja os documentários e fique a saber mais sobre o período da formação de Portugal e o início da expansão marítima.
 
 

A Formação: 1143 a 1500 (1ª parte)

Um pouco de história...
 
A Reconquista Cristã

A partir de meados do século XI, o espaço que viria a ser Portugal foi palco de operações militares sistemáticas que visavam recuperar para os cristãos os territórios ocupados pelos muçulmanos, num movimento que habitualmente se designa de Reconquista Cristã.
D. Henrique de Borgona foi recompensado pelo rei de Leão e Castela devido aos seus feitos na luta contra os mouros na Península Ibérica. É-lhe oferecida, em 1096, uma pequena terra: o Condado Portucalense.
 
Condado Portucalense
O filho de D. Henrique de Borgonha, Afonso Henriques, conquista grande parte do território que hoje é Portugal e proclama-se rei em 1139.

À medida que a Reconquista foi progredindo e até 1249, novos territórios foram sendo incorporados pela monarquia que assim estendia o seu domínio.
 
Evolução da Reconquista Cristã.

                                                                                                                              Economicamente...


Senhorialização (regime senhorial, feudalismo)
"Nulle terre sans seigneur."

Seguindo o regime comum aos restantes reinos mais próximos, o Conde D. Henrique, D. Afonso Henriques e os reis posteriores seguiam o Feudalismo, ou seja, os proprietários das terras eram também "senhores", a quem os camponeses pagavam uma série de tributos (impostos).
 
 
  •  Como eram distribuídas as terras?
Presúria: ocupação das terras conquistadas (pela força), seguida do seu aproveitamento económico (rei, nobreza ou clero);

Doação: retribuição de favores ou para obtenção de proteção;

Compra;

Criação de coutos e honras: terras em que o rei reconhecia ao povo um “direito secular”, isentando-o de pagar quaisquer taxas pelo seu cultivo; o senhor exercia apenas o poder jurídico-político;

Criação de forais: concessão coletiva de terras, com benefícios fiscais e alguns direito de autonomia administrativa; em troca do pagamento de um conjunto de prestações (contribuinte coletivo).
 
Com esta distrubuição de terras, a Coroa perdia progressivamente o controlo e, consequentemente, não via redimentos, pois os senhores acabavam por cobrar impostos aos camponeses e ficavam com o dinheiro e os bens para si próprios. Assim, a Coroa começa a implementar medidas que visavam a intensificação do seu próprio poder.
 
1216 - DIREITOS REAIS (reinado de D. Afonso II)
1220 - INQUIRIÇÕES GERAIS (reinado de D. Afonso II)
1372 e 1375 - DIREITO DE CORREIÇÃO; TABLIONADO (D. Fernando)

Introdução

Ao longo do semestre, tentaremos abordar a história económica de Portugal desde a fundação do reino (1143) até à atualidade, focando-nos nos principais acontecimentos que contribuiram ao longo do tempo para as diversas alterações de fundo no funcionamento da economia portuguesa.

Hoje Portugal está mergulhado numa profunda crise. Para a compreendermos, temos de recuar no tempo. Temos de recuar à fundação do reino, às lutas territoriais, à relação de amor-ódio com Castela, à queda de um império, aos sucessivos regimes políticos que foram sendo implementados e à entrada do país na União Europeia.

Assim, tentaremos estudar brevemente os seguintes períodos*:
A Formação – 1143 a 1500
A Expansão - 1500 a 1621
A Restauração - 1621 a 1703
A Consolidação - 1703 a 1807
O Liberalismo - 1807 a 1914
A Convergência - 1914 a 2013

* Períodos demarcados em Costa, Leonor Freire; Pedro Lains e Susana Munch Miranda (2012). História Económica de Portugal. 2ª edição. Lisboa: Esfera dos Livros.

Este blog é apenas um complemento às aulas da disciplina E42POL3 - Civilisation: histoire économique Portugal.